O juiz Marcel Laguna Duque Estrada, da 36ª Vara Criminal do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), condenou na quarta-feira (23) Antonio
Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, a 12 anos de prisão em regime
fechado e mil dias-multa por tráfico de drogas. Já Anderson Rosa
Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico do Morro do São Carlos, no Estácio,
zona norte do Rio, foi absolvido por falta de provas. Os dois pertencem
à facção Amigos dos Amigos (ADA), segundo o Ministério Público do Rio
(MP-RJ).
Nesse
processo, a dupla respondia pela "prática reiterada de aquisição, do
transporte e fornecimento de insumos ou produtos químicos destinados a
preparação de substância entorpecente (cloridrato de cocaína)".
O processo teve início após a Polícia Civil do Rio
descobrir, em 30 de agosto de 2007, um laboratório de refino de cocaína
na Favela da Rocinha, na zona sul do Rio, então dominada por Nem. Foram
apreendidos produtos químicos e insumos para a produção de cocaína, bem
como outros materiais para a produção da droga (bacia, holofote,
liquidificadores, lâmpadas especiais etc).
A denúncia do MP diz ainda que "em razão das constantes
operações policiais que se realizavam na comunidade da Rocinha e por
restarem em evidência na mídia, os líderes da ADA determinaram a remoção
do laboratório para o Morro do São Carlos, localizado no bairro do
Estácio".
Na ocasião, a comunidade era controlada por Coelho e
Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, morto em março de 2010. Após cerca
de dois meses, narra a denúncia do MP-RJ, a estrutura foi novamente
transferida para a Rocinha porque, no entendimento da cúpula da ADA, o
São Carlos "não oferecia a segurança necessária para a manutenção do
laboratório, não só contra as ações policiais, como também contra
ataques de outras organizações criminosas (Comando Vermelho e Terceiro
Comando)".
Em 2009, a Polícia Civil voltou a estourar dois
laboratórios de refino de cocaína na Rocinha: em 25 de março e 3 de
junho. Em sua sentença, o magistrado escreveu que a culpabilidade de Nem
é "intensa, na medida em que ele tinha posição de chefia no grupo
criminoso e atuava com desfaçatez e desenvoltura, articulando tramas
criminosas por longo período de tempo e sem a preocupação de se expor na
comunidade em que vivia, afrontando a todos como marginal declarado;
que sua conduta social é imprópria, uma vez que tem 36 anos de idade,
com plena capacidade laborativa, dedicando-se profissionalmente ao
crime; que os motivos são altamente censuráveis, já que o réu se
prestava a causar um imenso dano social, sem externar o mínimo
questionamento de consciência quanto às nefastas consequências de seus
atos, demonstrando vilania em grandes dimensões, agindo muitas vezes com
sede de poder e vaidade exagerada; que as circunstâncias do crime são
passíveis de maior reprovabilidade, já que o réu estava agregado a uma
associação criminosa, notoriamente de grande porte e perigosa (...)".
Em relação a Coelho, o juiz disse que "não obstante a
existência de indícios - até fortes - de autoria, não se pode afirmar
sem medo de errar que o réu Anderson participara do crime nos termos da
denúncia".
Atualmente, Nem e Coelho estão na Penitenciária Federal
de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Os dois foram presos em novembro
de 2011, dias antes da ocupação da Favela da Rocinha pelas forças de
segurança. A favela, a maior da zona sul da cidade, possui hoje uma
Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
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